Terapia infantil: quando é necessário?

Agir de forma muito diferente do habitual pode ser uma razão para os pais procurarem um profissional da área

Entrevista dada a Jornalista Renata Losso, especial para o Portal iG, São Paulo,
|03/03/2010 às11:10

Agressividade ou tristeza em excesso pode ser um sinal de que a criança precisa de terapia.

Todas as crianças passam por dificuldades, mas algumas podem precisar de ajuda durante o processo de crescimento. Como elas não são ainda capazes de apontar e resolver racionalmente as próprias aflições, os pais precisam ficar atentos a mudanças bruscas de comportamento.

Algumas crianças são mais tímidas, outras mais extrovertidas, mas, muitas vezes, estas características condizem apenas à personalidade de cada uma delas – não é necessariamente um sinal de que precisam de terapia. O mais
importante para saber se a criança está tendo um desenvolvimento emocional saudável é tentar perceber o que é usual do que não é.

De acordo com Regina Célia Gorodscy, psicóloga clínica e professora de psicologia na PUC-SP, em São Paulo, muitos pais não conseguem diferenciar o que é desenvolvimento do que é patologia, por exemplo. “Antes de pensarem
numa terapia, eles precisam estar sensíveis diante do que a criança demonstra”, explica.

A partir do momento em que a criança está agindo de maneira distinta do normal, está mais triste ou então muito agressiva com familiares ou na escola, é importante entender que ela está denunciando que algo não vai bem. No
entanto, segundo Teresinha Costa, psicóloga, psicanalista e autora do livro “Psicanálise com Crianças” (Editora Jorge Zahar), do Rio de Janeiro, muitas vezes a criança reflete a problemática da família. “Na verdade, quando os pais
procuram nossa ajuda, são necessárias algumas entrevistas para ver quem é que deve entrar em análise, se é a criança ou os pais”, afirma a especialista.

Segundo Regina, os pais chegam às clínicas em busca da resolução de problemas que, em primeiro momento, são atribuídos somente aos filhos. Mas não é bem assim. “Se a criança é muito agitada, por exemplo, os pais já procuram ajuda imaginando que seja algo patológico”, conta Regina. Mas é preciso perceber também o próprio estilo de vida. “Se a criança não está querendo dormir no horário certo, por exemplo, pode ser que este seja o único horário que ela encontre com os pais”, completa.

Por onde começar?

As razões para procurar um especialista da área infantil podem ser diversas, desde problemas comportamentais até doenças psicossomáticas, como a asma, por exemplo, que podem possuir uma causa de fundo emocional. Há diferentes sintomas que podem chamar a atenção dos pais, e consultar um profissional da área, principalmente depois de traumas como a morte de alguém próximo ou um acidente, pode ser uma boa saída. Mas nunca se deve
obrigá-los a frequentar uma sessão de terapia.

“Se a criança não quer, ela não deve vir”, avisa Regina. A psicóloga clínica Edna Levy, de São Paulo, completa: “Não dá certo trazer alguém na marra. Na primeira infância, não costuma haver resistência, mas é preciso sensibilizar o
adolescente que não está interessado pela via da conversa”. Ao mostrar os sintomas que ele está vivenciando, como afastamento dos amigos, por exemplo, ele irá pensar no que foi dito e deixará a porta aberta para fazer uma
tentativa.

O divã dos pequenos

Entre as diversas possibilidades de terapia infantil, Edna Levy trabalha com seus pacientes por meio do “Jogo de Areia” (sandplay, em inglês), método de análise terapêutica, da linha teórica Junguiana. Segundo ela, é uma técnica em que o paciente não precisa verbalizar se não quiser, mas, sim, elaborar cenários numa caixa de areia com miniaturas de tudo o que há em nosso universo cotidiano. “Meios de transporte, árvores, bebidas, animais, móveis,
roupas, objetos esportivos, entre muitos outros”, conta Edna. “Este cenário é fotografado e ele é analisado por meio de símbolos fora da sessão”, completa.

De acordo com a especialista, o “Jogo de Areia” é uma via expressa do inconsciente para o consciente, para o mundo real. “A dificuldade, ali, se torna algo concreto; a criança, através da cena, começa a elaborar a questão”, explica. Embora seja um método que pode ser utilizado por crianças e adultos, para os pequenos tem uma grande vantagem: o “Jogo de Areia” provoca um grande fascínio e, portanto, não há a menor resistência. “Para as crianças de
pouca idade, não há a terapia tradicional verbal, tudo acontece no mundo da imaginação e da fantasia”, completa Edna.

Há diversos trabalhos que podem ser estabelecidos com a criança, desde a ludoterapia, onde a brincadeira é a principal forma de análise, até a psicanálise, onde há a possibilidade de brincar e desenhar. No entanto, para Regina, a melhor terapia é aquela que você vê dar certo. “O importante é que o profissional seja formado, que tenha uma especialização, mas o principal é a aproximação dos pais”, afirma.

Segundo Regina, não adianta a criança seguir com uma terapia se os pais não estão juntos no processo. “Nesta correria diária, os pais não param para pensar nas dificuldades que eles próprios possuem”, completa Teresinha. Para ela, a maioria dos problemas infantis atuais está ligado aos pais, então, é necessário perceber essa questão e analisar a dinâmica familiar.

Sintomas de alerta

Além dos fatores já citados acima, há outros sinais que sugerem a procura de um profissional da área. Conheça alguns deles:

  • Dificuldades na escola
  • Dificuldades na relação com os colegas de classe
  • Timidez em excesso
  • Agressividade em excesso
  • Problemas psicossomáticos como asma e dermatite alérgica, entre outros
  • Atitudes de insegurança (crianças com dificuldades para sair do lado
    dos pais)
  • Medo em excesso (de dormir, de ficar sozinha, do escuro)
  • Fazer xixi na cama após os cinco anos